A morte cerebral é a cessação completa e irreversível de todas as atividades do cérebro, incluindo o tronco cerebral, responsável por funções vitais como respiração, batimentos cardíacos autônomos e consciência. Quando diagnosticada de acordo com critérios clínicos e neurológicos rigorosos, ela é considerada legalmente equivalente à morte em muitos países, inclusive nos Estados Unidos. Mesmo que o coração ainda possa bater com a ajuda de aparelhos, o corpo já não possui qualquer potencial de recuperação — trata-se, na prática, de um organismo sem vida.

Quando a morte não basta: a mulher mantida viva à força para gestar

 

Adriana Smith, uma enfermeira de 30 anos e mãe de um filho de 7 anos, foi declarada com morte cerebral em fevereiro de 2025 após sofrer complicações devido a coágulos sanguíneos no cérebro. Na época, ela estava grávida de aproximadamente nove semanas. Desde então, seu corpo tem sido mantido em suporte vital no Emory University Hospital, em Atlanta, com o objetivo de sustentar a gestação, conforme relatado por sua família.

A situação de Adriana gerou intenso debate sobre as implicações das leis restritivas de aborto na Geórgia. Segundo reportagens do Washington Post e da NBC News, embora o Procurador-Geral do estado tenha esclarecido que a remoção do suporte vital de uma paciente com morte cerebral não constitui aborto sob a legislação vigente, o hospital optou por manter o suporte, citando a necessidade de conformidade com as leis estaduais.

Sua mãe, April Newkirk, expressou profunda angústia com a situação, descrevendo-a como “tortura” e destacando a falta de autonomia da família para tomar decisões médicas em nome de Adriana. O caso levanta questões complexas sobre direitos reprodutivos, autonomia corporal e as interpretações legais das leis de aborto em casos de morte cerebral.

O caso reacende debates profundos sobre autonomia corporal, direitos reprodutivos, e os limites entre vida, morte e política. Ele também expõe como, em certos estados americanos, o corpo feminino pode ser transformado em uma espécie de “incubadora biológica” — mesmo contra sua vontade e mesmo após o fim da vida.

Morte cerebral: fim da vida, ou não?

 

Como apresentado anteriormente, a morte cerebral é a cessação total e irreversível das funções do cérebro, incluindo o tronco cerebral. Ela é considerada morte legal na maioria dos países, inclusive nos EUA. Embora o coração possa continuar batendo com o auxílio de aparelhos, o corpo já não possui qualquer consciência ou capacidade de recuperação. Não é um coma, não é um estado vegetativo. É morte.

Mesmo assim, na Geórgia, a presença de um embrião muda tudo. A legislação estadual, fortalecida após a derrubada de Roe v. Wade, restringe o aborto a partir da detecção de atividade cardíaca fetal, o que pode ocorrer com cerca de seis semanas. Não há exceções explícitas para casos de morte cerebral. E por isso, Adriana Smith continua sendo tratada como um corpo em uso, e não como uma mulher que morreu.

A ciência versus a política

Em um vídeo publicado na rede TikTok, a obstetra e ginecologista Dra. Rachel comenta diretamente sobre o estágio gestacional de nove semanas, como no caso de Adriana. Ela ressalta que, biologicamente, trata-se de um aglomerado de células que ainda não se parece com um feto, e que não possui sistema nervoso formado, nem qualquer viabilidade fora do útero. Seu argumento é claro: não é apenas precoce, mas eticamente questionável submeter um corpo — ainda mais um corpo morto — a esse tipo de prolongamento artificial para proteger algo que, segundo ela, não representa uma vida humana desenvolvida. Ela nos apresenta a seguinte image, que mostra o tecido removido no processo de aborto, entre 5 e 9 semanas, destacando o tecido de 9 semanas, quando Adriana teve a morte cerebral oficializada.

Outro vídeo impactante é o da americana Jennifer, mãe de um adolescente que foi mantido vivo temporariamente para doar seus órgãos após morte cerebral — algo que ele desejava em vida. Ainda assim, Jennifer relata o processo como doloroso, traumático e exaustivo. No caso de Adriana, nem sequer houve esse desejo expresso. Jennifer compartilha que 2 anos ja se passaram e o trauma da experiencia que passou ao lado do corpo do seu filho, vendo ao que ele era submetido para manter or órgãos funcionando, ainda a aterrorizam. O argumento é que ambas as manutenções do suporte são para salvar outras vidas, mas em um dos casos sendo o feto acima demonstrado com 9 semanas de gestação e sem o consentimento da mãe.

Quando a política se sobrepõe à humanidade

O caso de Brianna não é apenas mais um na longa lista de embates sobre aborto. Ele levanta questões que incomodam:
– A quem pertence o corpo da mulher, mesmo depois da morte?
– O que é mais importante: a vida já vivida ou a vida em potencial?
– É ético obrigar uma família a manter viva uma mulher morta por semanas, contra seus valores e afetos?

Do ponto de vista bioético, o caso da Adriana coloca em conflito princípios fundamentais como a autonomia (o direito de uma pessoa decidir sobre o próprio corpo), a beneficência (agir no melhor interesse do paciente ou do feto), e a justiça (considerando os direitos da família, do feto e da sociedade). Quando a paciente está morta legalmente, mas seu corpo continua sendo usado para sustentar uma gestação que pode ou não evoluir, entram em jogo questões complexas de definição de vida, viabilidade fetal, intenção médica e interferência estatal.

A controvérsia também evidencia como os avanços da medicina intensificam esses dilemas. Há poucas décadas, manter artificialmente as funções vitais de uma pessoa morta por semanas ou meses não seria possível. Hoje, com a tecnologia disponível, abre-se um espaço difícil de legislar e ainda mais difícil de enfrentar emocionalmente para as famílias envolvidas.

Enquanto o caso segue em andamento e as autoridades da Geórgia mantêm sua posição, a discussão cresce nas redes, nas universidades, entre médicos, juristas e cidadãos. É um episódio que obriga a sociedade a se confrontar com perguntas profundas, para as quais não existem respostas simples — apenas camadas de dilemas éticos, humanos e legais que merecem ser examinados com atenção e sensibilidade.